segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Bonne chance




Um livro que se encaixe em mais do que uma etiqueta merece ser analisado com um apreço positivo.
Mesmo se o livro não se mostra extraordinário nem como policial, nem como ficção histórica, nem como aventura.
Por aceitar todos esses elementos no amplexo das suas capas, algo de melhor se eleva da leitura.
Um prazer que vem do autor, em que o seu livro esteja repleto de mistérios, traições, espionagem e affaires.
Fios da trama excitantes desde há séculos e cuja multiplicidade lhe permitiram prolongar o livro por quantas páginas entendesse, acrescentando detalhes às descrições carregadas de detalhes históricos, como se fosse isso que valorizasse o texto.
A escolhida eficácia da escrita tem um efeito mais pertinente, o do ritmo. Um ritmo que cria excitação de forma invisível, um ritmo de aventura.
Combinado com uma escolha estrutural que finaliza capítulos com revelações emocionantes que estimulam o espanto (e não a frustação dos page-turner), O Espião de Austerlitz recorda um folhetim.
Tudo isto coloca o leitor no correcto estado de espírito para o tipo de trama que se desenvolve, até porque o estilo já é raro de encontrar na literactura actual.
Um pouco previsível em certos momentos por recorrer a eventos fortes cujos efeitos dramáticos são já bem conhecidos mas uma trama em que os pequenos elementos geram a devida curiosidade.
Napoleão e a sua campanha em Austerlitz sendo o mais importante desses pequenos elementos - e isto não é um trocadilho a propósito do complexo que recebeu o seu nome.
A sua estratégia para a batalha, os esquemas de espionagem e contra-espionagem que a acompanham e a tensão da busca pelo assassino e provável traidor entre os elementos que deviam ser mais leais ao imperador tornam o ambiente galvanizante.
Ainda para mais sendo Napoleão uma figura longe de ser veiculada pelo livro, sendo criticado pela mulher do próprio comissário Donatien Lachance.
A mulher dele é, aliás, uma importante adição para os acontecimentos mais extraordinários do livro e, igualmente, para as questões de honra que adicionam interesse à vida privada do protagonista.
Se os outros livros desta série não chegarem até nós já podemos dizer que tivemos a fortuna desta amostra a contento.


O Espião de Austerlitz (Laurent Joffrin)
Gradiva
1ª edição - Abril de 2016
228 páginas

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