quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Romance sob a luz de ETs

Sob a promessa de Ficção Científica vamos encontrar temas adolescentes, de entre os quais se destacam uma obsessão quase permanente pelas relações amorosas e a dificuldade do emparelhamento acontecer a contento.
Os personagens têm a idade correcta para tal, pois nestes mundos os autores encontram sempre forma de tornar os adolescentes nos protagonistas ou mesmo nos únicos sobreviventes mas perante um evento da magnitude de uma invasão alienígena apontada ao genocídio da raça humana, seria de esperar que as suas personalidades se alterassem ou, pelo menos, que os eventos acabassem por esmagar essas velhas prioridades.
Seria de esperar que Ben não passasse o tempo a tentar usar o seu sorriso sedutor para com a sua colega de "esquadrão de morte".
Sobretudo, seria de esperar que Cassie não acordasse depois de baleada e tivesse como sequência de preocupações "Onde estou? A minha arma? Alguém me viu nua!".
Cassie é a personagem que assume contornos de protagonista, embora não a acompanhemos durante todo o tempo.
Que ela seja a protagonista é um problema para Rick Yancey que, honestamente, não parece ser capaz de definir uma personagem feminina.
Ele começa por a definir como uma miúda no processo de ascender a Ellen Ripley, capaz de se decidir por matar um soldado moribundo à conta das dúvidas de que ele possa ser um alienígena.
Muito lá mais para diante ela parece dominada por um histerismo hormonal que pelo seu exagero deve ser o único meio que o autor vê a definição de uma rapariga.
Para quem matou um soldado depois de pouca hesitação, chegar a um ponto em que está a retirar estilhaços das costas de Walker e a sua grande preocupação é o rabo dele e não que ele seja um alienígena e assassino é sinal de uma clara degradação de personalidade que vem do facto do romance eminente ter mais importância do que o perigo eminente.
Não se trata apenas de Cassie, pois Yancey escreve os seus personagens masculinos de forma igualmente deficitária.
Em geral, neste mundo, todos se expressam de forma limitada e onde a linguagem internética toma o lugar de uma expressão séria das suas emoções ou da sua visão do mundo.
Uma tentativa de desculpar isso como sendo a mentalidade adolescente - mesmo que fosse, um autor tem de a transformar e melhorar - não consegue fugir ao facto da escrita de Yancey ser apenas funcional mas a tentar surgir como elaborada - como se tivesse de ser substancial porque tudo o resto não é.
Lamentavelmente o autor está longe de estar em controlo das suas próprias pretensões e a vazia procura de estilo acaba por chegar ao ponto de fazer o autor contradizer-se. Em parágrafos consecutivos! (Exemplo rápido: um personagem lamenta não poder ver a sua própria cara durante um certo evento para depois dizer que está a viver uma projecção de consciência.)
Com tudo isto nada disse da Ficção Científica. O pouco que há a dizer é que parece ser pouco desenvolvida a partir de um número reduzido de ideias que de original nada têm.
O desenvolvimento também era desnecessário pois as quatro anteriores vagas da invasão surgem apenas em referências rápidas como analepses para que não se possa acusar o Presente do livro de estar descontextualizado.
Aquilo que essas analepses deixam perceber é que os alienígenas, com a tecnologia ao seu dispôr, têm um plano pouco consistente para dominar o planeta.
Como se estivessem decididos a dar aos humanos uma hipótese de os derrotar... Ou como se a trama deste livro dependesse sempre de elementos de conveniência que a tornam inconsistente.


A 5ª Vaga (Rick Yancey)
Editorial Presença
1ª edição - Maio de 2015
400 páginas

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