sábado, 1 de agosto de 2015

Não excita

O título nacional deste livro de Karen Dolby engana o leitor. A sua formulação complexa sugere bem mais do que a verdade do seu título original, History's Naughty Bits.
Nesse outro título está toda a verdade sobre esta ser uma compilação de detalhes picantes sobre aqueles que ao longo da História foram sujeitos àquilo que hoje se chamaria atenção mediática.
Isso só se torna evidente a partir do quarto capítulo, todo ele dedicado aos Excessos da Realeza.
De facto é um excesso a atenção que a autora dá à quantidade de amantes tidas pelos reis e, sobretudo, os reis de Inglaterra.
Além da autora ter vistas geograficamente curtas - talvez não esperando que o seu livro se vendesse para lá do país original de publicação - a sua selecção de interesses sexuais nem sempre tem o efeito titilante que procurava.
Claro que é interessante saber que os reis alemães, influenciados pela moda real de Inglaterra e França, tinham de assumir amantes públicas e ora as escolhiam gordas e baixas ou altas e magras mas sempre feias (por terem pouco uso para elas...) ao ponto de serem gozados por isso.
Só que o foco não está nessa forma global de como a sexualidade se expressava nas cortes Europeias, está sempre nos pequenos casos individuais.
Associados a uma escrita sempre dividida numas crónicas breves (de duas páginas no máximo) e com o seu relato que quer ser mais evocativo do que preciso, fica-se com a sensação de estar a ler uma coluna de mexericos dos séculos passados.
Esta sensação não é perpétua, mas como se forma no capítulo que é o âmago do livro, espalha-se pelo que vem depois e, pior, pelo que veio antes.
Antes desse capítulo sobre a realeza, o livro até parece ir de encontro ao seu título português, pondo em evidência os equívocos que são até aos dias de hoje usados para descrever a sexualidade na Grécia Clássica ou de como foi sendo feita, ao longo da História, a assepsia das ruas dedicadas à prostituição, não só na presença das trabalhadoras do sexo mas igualmente nos nomes que indicavam a que se dedicavam as pessoas ali.
Neste último tema já há indícios de uma dedicação à cultura anglófona cuja consciência vai sendo mitigada por informação mais abrangente e que não se fica no domínio da prostituição, vai também ao amor inconcretizado que os cavaleiros expressavam em textos ou actividade física às suas amadas.
Depois do capítulo sobre a realeza há ainda lugar aos fetiches, à homossexualidade (e a sua perseguição) e, finalmente, ao papel da mulher.
São capítulos cada vez mais curtos porque cada vez menos "picantes". A seriedade dos temas, pelo contrário, deveria suscitar um maior fluxo de informação.
A autora não parece ter feito uma pesquisa intensiva, antes correndo atrás dos detalhes mais óbvios, seja da condenação de Oscar Wilde ou da invenção do vibrador para tratar a Histeria Feminina.
Claro que há sempre informação que não se conhecia e detalhes surpreendentes, o que não significa que a leitura alimente o intelecto.
Se era para ser esta coluna de revelações sexuais informativa e não de exploração - ou, pelo menos, exploração detalhada - valia a pena escandalizar o leitor pela súbita consciência de que todas as revoluções sexuais surgiram do esquecimento a que as anteriores foram condenadas.
A verdade é que, na forma como está feito, este livro não excita!


O Sexo ao Longo dos Tempos: Debaixo dos Lençóis da História Universal (Karen Dolby)
Vogais
1ª edição - Outubro de 2014
224 páginas

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