sábado, 27 de setembro de 2014

Partir com Jack Reacher

Iniciando um livro de Lee Child é necessário pouco tempo para perceber porque há tantos fãs de Jack Reacher.
Trata-se de um personagem à margem da sociedade, que usufrui da liberdade com que a maioria dos leitores apenas sonha, mas capaz de com ela se relacionar com grande facilidade, usando de enorme educação e colocando as suas habilidades à disposição alheia.
Destaca-se de todos os outros pela sua figura física sem se sentir incomodado por isso e rege-se por um código moral que determina para si mesmo mas que o torna sempre no "herói" da situação em causa.
Embora possa parecer um The A-Team de um homem só - e não sendo apenas um livro que permite tirar conclusões precisas - é um viandante que reforça um sentido de liberdade individual e desapego material sem desprezar os outros seres humanos - pelo menos os que não o merecem.
Felizmente que ele é mais do que um combatente com coração. Às suas capacidades de combate e de sobrevivência, capazes de rivalizar com as de qualquer protagonista de filmes de acção, alia-se uma inteligência dedutiva que lhe vem dos tempos de detective ao serviço do Exército.
Poderão parecer demasiadas capacidades agregadas a um único personagem, como se de um super-homem se tratasse, mas há uma coerência na personagem que a torna credível no conjunto de todas estas quallidades.
Afinal, não é um personagem infalível mesmo se tem recursos suficientes para contrariar a maioria das ameaças que enfrente. E apesar da sua opção pela solidão não deixa de se sentir tocado por gestos de simpatia.
O desenvolvimento da personagem, mesmo numa leitura de um livro isolado, é notada como a tarefa na qual maior dedicação é investida.
Daí resulta um aspecto merecedor de destaque, que Lee Child contribuia com uma qualidade de escrita que não costuma ser chamada aos thrillers.
A abusiva descrição de acções que tende a encher páginas atrás de páginas (Jeff Abbott é o primeiro nome a vir-me à mente) é aqui substituída por uma construção cuidada que valoriza o cenário e o ambiente em que as personagens se movem, valorizando assim a envolvência da leitura ao invés de a tornar tão específica que causa um desinvestimento de imaginação por parte do leitor.
Resulta isso também deste livro ser uma construção de policial que só no seu desfecho cede lugar às cenas de thriller, dando por isso espaço às personagens e às situações que vivem em vez de as obrigar a servir como peças (semi-anónimas) da trama.
Certamente que com isso se torna apelativo de seguir as várias aventuras de Jack Reacher, fonte de prazer literário e não de meras "emoções fortes".


61 Horas (Lee Child)
Edições Asa
1ª edição - Novembro de 2012
432 páginas

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