quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Na encruzilhada do Policial

Se a História de um género - ou de uma Arte - se faz muitas vezes a partir dos casos excepcionais que nele surgiram e que, na maior parte dos casos, deixaram descendência na abordagem, ela entende-se a partir dos trabalhos que marcam o caminho laborioso mas pouco distinto que esse género faz para se manter em vivo.
Foi com esta perspectiva que mergulhei nesta antologia que, apesar do aviso deixado sobre a relevância dos nomes escolhidos, 
O primeiro volume anunciava "12 Novos Grandes Autores Policiais" e o segundo apenas "13 Grandes Autores policiais".
Como entre uma listagem e outra (que encontram junto às capaz, no final da crítica) alguns nomes se repetiam, não creio que haja algo mais do que intenções publicitárias a reger o critério da listagem.
Haverá, certamente, gente mais bem informada que reconhecerá vários dos nomes aqui incluído, mas por pouco que eu não identificava qualquer um (além do de Edgar Wallace).
Por isso, acho mais interessante - e significativo - identificar algumas tendências em vez de destacar nomes e contos isolados de entre os aqui presentes.
Considerando que esta é uma antologia de contos escritos, maioritariamente na segunda metade da década de 1960, há uma mistura de repetição de tendências passadas e de tentativas de desbravar tendências futuras que acaba por dizer muito da encruzilhada que então se vivia para o Policial.
Encontramos tanto autores que se haviam estreado ainda nos anos 1930 - como Nigel Morland, muito influenciado pelo próprio Wallace (de quem era amigo) e que haveria de se tornar editor da revista - e outros que tentavam iniciar-se no género - como Morris Hershman, que assina os mais excitantes contos aqui presentes.
O que fica patente é uma mistura nada coerente entre as tendências, parecendo fácil distinguir entre os que vinham escrevendo há muito e os restantes.
Os contos menos interessantes são aqueles que se limitam a relatar, com uma elaboração de escritor, casos reais que chegaram a julgamento (momento em que eles se centram).
São contos em que se mantém uma inocência perdida, a ideia de que o crime ele próprio é o suficiente para captar o interesse dos leitores, gente de moral irrepreensível que se excita por ficar a conhecer os maus costumes que vão surgindo esporadicamente no seu país.
Sugerindo uma mesma linha de crença na inocência da sociedade e da sua Era surgem os contos que enviam para países distantes e exóticos a acção das suas histórias. Como se a Inglaterra não pudesse ser palco dos mais extravagantes ou hediondos crimes (vale a pena comparar essa ideia com a maneira como John Bingham a desfez, através do mesmo género).
Muito melhores são os contos que usam a influência de Wallace - a investigação guiada pela acção e consequente aproximação às pulps - e abdicam de se colarem ao que fora a Era de Ouro do policial, para penetrar nos meandros da psicologia do crime, com muitas surpresas à mistura.
São contos que aceitam o Mal existente, o usam a seu favor chegando mesmo a dar-lhe o protagonismo, para daí extraírem o máximo que os efeitos da leitura têm sobre as emoções dos leitores.
Aí se pode ver o início do que viria a ser o thriller, cada vez mais dependente da sequência de cenas de acção em nome dum estado de excitação constante do leitor.
Num caso ou noutro, não estamos perante os melhores autores do género, pelo que muitos deles terão sido esquecidos sem hipótese de recuperação.
Mas é com estes contos de meros executantes que se percebe de onde vem e onde chegou o Policial. Uma aprendizagem importante de fazer.


Grande Antologia do Conto Policial - 1º Volume (John Salt, Morris Hershman, Peter Ardouin, Nigel Morland, James Morier, Eric Parr, Ray Dorien, Wilhelm Hauff, Marten Cumberland, Pete Fry, Paul Tabori, Bill Knox)
Portugal Press
Sem indicação da edição - 1978
236 páginas


Grande Antologia do Conto Policial - 2º Volume (Edgar Wallace, John Salt, Nigel Morland, Morris Hershman, C. M. Maclead, James Pattinson, Colin Robertson, Kern L. Perc, Stewart Farrar, John Boland, Alistair Allan, Michael Gilbert, Bernard Newman)
Portugal Press
Sem indicação da edição - 1978
212 páginas

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