sábado, 24 de agosto de 2013

A aventura realista da maçonaria

A maçonaria é um tema que, de tempos a tempos, retorna à atenção pública, raramente por razões que cumprem os parâmetros da decência.
Para os leigos, além dos artigos e dossiers que a imprensa aproveita para publicar nessas alturas, encontra n'O Ritual da Sombra uma excelente oportunidade para adensar o seu entendimento do que é e a que se dedica este conjunto de sociedades.
O romance tem esse exacto propósito de esclarecimento sem se escudar aos detalhes menos abonatórios que são apontados à maçonaria.
O protagonista, um detective primeiro e mação depois, diz logo ao que vem no início do livro. O seu propósito, como deveria ser de todos os mações, é o de evoluir para um estado de conhecimento o mais avançado possível; enquanto as influências corrompindas que outros procuram o enojam.
Mais do que uma definição de carácter do protagonista ou uma defesa da maçonaria, este reconhecimento e oposição entre as várias realidades decorrentes da maçorania são uma linha-mestra do livro.
A verdade e os mitos, tal como a simbologia verdadeira e os entendimentos indevidamente extrapolados, servem de combustível à imaginação dos autores que permitem aos leitores irem primeiro escandalizando-se ou excitando-se com as possibilidades maçónicas para, depois, as mostrarem numa visão mais terra a terra.
Fazem-no pela maneira como o final tem uma dimensão, de certa maneira, anti-climática (mas não desapontante) perante o grande enigma construído - com início na Segunda Guerra Mundial - e que tem uma resposta quase comum mas muito de acordo com o verdadeiro objectivo veiculado pela maçonaria.
E fazem-no pela apresentação de anexos finais onde comparam a realidade dos factos com aquilo que se permitiram inventar: esclarecimentos que são, igualmente, um olhar pertinente acerca do método de criação e de como se combina imaginação e investigação.
Todo o didactismo funciona particularmente bem por estar integrado, de maneira quase indescirnível, com um thriller aventuroso, aquilo que é sempre uma espécie de diluição de Indiana Jones e que recorre a vários cenários históricos reais - felizmente, neste caso, sem reivindicar realidade do que é fantasioso e sem truques impossíveis de acreditar.
O livro devora-se, mantendo o leitor em suspenso sem perder oportunidades para revelar informação (sempre bem documentada) dentro da fluídez da acção.
Os rituais e símbolos da maçonaria integram-se muito bem - e elevam, em certa medida - num cenário que poderia recorrer à simplificação grosseira ou a um verdadeiro aparvalhamento para relacionar documentos místicos roubados e sociedades secretas anti-maçonaria de um modo que sirva para cenas de acção em locais (historicamente) exóticos.
O livro tem, nessa capacidade de entretenimento, o dom de agudizar o novo olhar esclarecido - e admirativo - ao que a maçonaria foi e deve ser.
Até porque a concretização deste livro, a meias entre um jornalista que investigou a maçonaria e um mação com o grau de Grande Mestre, acaba por ser o exemplo maior desse esclarecimento intelectual que os mações devem procurar, enchendo de erudição - até pela qualidade da escrita, que a tradução acompanha devidamente - o que outros tornaram num entretenimento comercial formulaico.


O Ritual da Sombra (Jacques Ravenne e Eric Giacometti)
Publicações Europa-América
Sem indicação da edição - Setembro de 2012
384 páginas

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