quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Para uma degustação moderada

Os leitores que gostam de vinho vão dar por si a sentir na saliva que as suas glândulas produzem o sabor dos vinhos sobre os quais vão lendo, tentando preservar na boca o néctar que as palavras recordam.
Este é um livro para esses leitores, que já chegam com o paladar aguçado e para quem um vinho nunca termina com a garrafa vazia ao fim do jantar.
Dando atenção à História dos vinhos, mas aproveitando algumas histórias dos vinhos pelo meio, João Barbosa faz a sua declaração de amor ao néctar retribuindo com um documento permanente o prazer momentâneo que cada garrafa lhe traz. Uma arte em nome de outra.
Nota-se que o objectivo é mais documental do que lúdico, nem que seja pela minúcia de incluir declarações de alguns entrevistados que sabem ainda mais do que o autor e que ele bem fez em partilhar com todos.
Daí resulta uma certa seriedade a que nem mesmo os faits divers conseguem fugir quando pediam uma pena mais solta para se escapar em direcção ao tom mais humorístico que os episódios menos abonatórios mereciam.
Digo eu, sem ser um especialista, que a realização de um vinho é uma arte merecedora de toda a dignidade, mas sendo uma arte do prazer também não lhe fica mal passar pela lama uma ou outra vez.
Queixo-me por ter ficado mal habituado e esperar que estas histórias - que também fazem História de um Portugal que, neste campo, se ergue acima de muitos outros países - fossem mais saborosas e menos detalhadas.
Quando abrisse a próxima garrafa de um destes vinhos queria que o seu primeiro travo viesse acompanhado da memória das pequenas loucuras que não podem ser engarrafadas mas são indispensáveis ao sabor daquele vinho. A informação precisa serve melhor a consulta bibliográfica do que a degustação permanente ou o fácil relato aos convivas.
Parece-me justo dizer, dado que os breves relatos deste livro me foram acompanhando divididos por várias noites , que  vale mais a prova moderada para que os efeitos nocivos da acumulação sejam menos evidentes.
As histórias de João Barbosa acabam por recordar o sermão de um avó aos seus netos demasiado novos tentando passar-lhes a noção do peso da família. E o que se queria mesmo era que se parecessem com aquelas partilhas que entrosam avô e neto revelando os momentos menos compostos do primeiro... possivelmente de volta do primeiro copo de vinho que o jovem prova na sua vida!


Grande Reserva (João Barbosa)
Oficina do Livro
1ª edição - Setembro de 2011
236 páginas

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