quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Uma ponte a atravessar

Imagine-se que John Watson ou Archie Goodwin assumem o papel principal de uma história de detectives e eis o início de Manual do Detective, uma história onde um escrivão se vê subitamente promovido ao lugar do detective para quem escrevia os relatórios.
A sua missão é-lhe tão desconhecida quanto a profissão que tem de assumir e o seu maior objectivo é encontrar o maior detective que a História já conheceu para que possa voltar à sua secretária e inventar títulos brilhantes para os casos que o Detective Sivart resolve e Charles Unwin apenas organiza.
Envolvido numa trama extraordinária, o recém-nomeado detective tem ao seu serviço apenas um estranho manual com conselhos como "Pistas - Siga-as para que não o sigam a si" (que, deliciosamente, abrem cada capítulo do livro correspondendo a cada capítulo do livro dentro do livro).
Move-se num ambiente que se apropria do retro - o noir dos anos 1940, sobretudo - para daí reinventar a ficção especulativa que um detective é capaz de enfrentar.
Nos meandros complexos de uma cidade onde chove o tempo todo e que conta, pelo menos, com uma femme fatale de considerável alcance, nada se esgota na realidade à medida que sonâmbulos se tornam figuras essenciais do mistério, os despertadores são roubados massivamente e uma voz cantada adormece com os seus ouvintes.
Há mais do que um plano de (ir)realidade em que decorrem as investigações e os melhores ingredientes policiais - o arqui-inimigo brilhante - marcam presença à medida que se mergulha mais fundo nos muitos segredos que aquele mundo sem nome esconde na sua mistura de Sociedade Policiada pela grande orgnização de detectives mas repleta dos recantos escuros onde Feiras Itinerantes são esconderijos ideais a capangas gémeos.
Ordem e caos equilibrando uma mistura de géneros a que o autor dá sempre consistência e que contribui ainda mais para uma imaginação que cita muitas referências sem as ter de exibir em frente ao leitor. Envolvem-se discretamente num mundo novo e enfeitiçante!
Um bom livro para arrumar entre O fim do Sr Y e O Sindicato de Polícias Iídiches. Tão imaginativo como o primeiro e tão bem ambientado como o segundo, é a ponte ideal.
Mas estas são as minhas duas margens entre as quais senti que atravessava. Cada leitor encontrará outras margens que ligar com esta ponte literária que não esgota referências desde que o leitor as tenha à mão!


Manual do detective (Jebediah Berry)
Publicações Europa-América
Sem indicação da edição - Junho de 2011
260 páginas

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