sábado, 22 de outubro de 2011

Pouco ousado

Ao contrário do que a capa possa sugerir, é muito longe do Hotel Íris que a história de amor entre um homem a caminho de ser um velho e uma rapariga demasiado nova para ser mulher.
Ele tem gostos sexuais poucos habituais e ela ainda nem sabe o que é entregar-se, mas o livro conta a história de amor que eles viveram.
História que entre súor lambido do corpo e combinações rasgadas a tesoura só termina no momento maior de dramatismo que uma trágica história de amor pode ter.
É o pior momento para terminar a história, quando ela ainda é uma fogueira ao rubro. Não tanto porque esta história de amor não possa terminar em tragédia como tantas outras mas porque tantas outras histórias de amor terminaram em tragédia e esta não teria de ser mais uma.
As relações entre homens demasiado velhos e raparigas demasiado novas não é uma novidade literária e não é por haver um eventual amor sincero que o sexo se torna menos importante no grau de atenção que a relação merece.
Numa relação onde o fétiche e, sobretudo, a dominação são o ponto forte, não é na fuga (em sentido lato) dele que o livro realmente terminaria.
A história está mesmo no ponto em que se pedia que se explorassem temas maiores do que o amor, que tantos autores teimam em escrever com maiúscula pensando que nada mais há a dizer para lá dele.
E, no entanto, aqui seria mais forte saber porque os amantes pouco habituais têm destinos reservados a monstros incompreendidos ou que destino espera uma mulher que foi apresentada à sua sexualidade de uma forma que também destrói as suas possibilidades de se relacionar afectuosamente.
Ainda que a miúda da história tenha um momento de amor com o sobrinho do homem com quem se relaciona, é rastejando e servindo um amo que ela aprende a sentir a atração dos corpos. O que lhe sobra depois disso, como mulher mal habituada e de perspectivas severas que se tornou?
Nesta interrogação sobre o destino estava o espaço em que a autora poderia ter explorado a ousadia sexual que o livro anuncia mas que não cumpre.
Basta conhecer algumas das obras que o Japão - em domínios literários, cinematográficos ou banda desenhísticos - produz para saber que na produção popular do país há abordagens muito mais ousadas que continuam a ser escondidas do conhecimento europeu por mero embaraço.
Mesmo fazendo o esforço de compreender que este livro se publica porque o seu tema continua a conter o assombro sussurrado de quem quer parecer púdico, não posso deixar de sentir que trata apenas um tabú educado que (com a ajuda da linguagem polida da autora) até seduz mas não choca.
O amor condimentado com um pouco de sexo está bem para se ler. Mas o sexo esvaziado de amor estaria bem melhor para se pensar mais longamente no assunto.


Hotel Íris (Yoko Ogawa)
Quetzal
Sem indicação da edição - Junho de 2009
176 páginas

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