terça-feira, 6 de setembro de 2011

Finalmente

No local onde passo parte das minhas férias tenho alguns livros à minha espera para que não tenha de carregar demasiado peso durante a viagem.
São títulos menos interessantes no retrato geral dos livros disponíveis para leitura e que, normalmente, me merecem aquele pensamento Eu até leria isto, mas apenas numa inevitabilidade.
Corro, por isso, o risco de ter uma sequência de leituras francamente desapontadoras, como a deste ano que começou neste ponto.
A sequência negativa só foi interrompida pelo último destes "livros de segunda" que lerei por esta altura. Perseguida é um policial como gosto que eles sejam.
Este é o terceiro livro protagonizado pelo detective Jonathan Strider e deixou-me com pena de não lhe ter acompanhado o percurso até este ponto.
A construção deste personagem é óptima, um investigador de excepção, uma personagem que sobressai - pelo seu passado e pela sua personalidade - da investigação em curso, dando um contributo para o interesse na história enquanto cativa numa relação a longo prazo que se percebe influenciar os casos em que se envolve em vez de ser uma figura recorrente usada como "gancho" para levar o leitor de caso em caso, mesmo que estes pouca relação tenham entre si.
E, com ele, temos ainda o benefício de contemplar um conjunto de outros detectives que, em papéis igualmente centrais ou mais secundários, são personagens tridimensionais que nos interessam individualmente e no conjunto das suas relações.
Temos polícias e detectives privados, temos homens e mulheres nessas funções. As muitas variantes estruturais das personagens envolvidas, com personalidades muito distintas e comportamentos antagónicos, contribuem para uma variedade de possibilidades que motivam a leitura e sustentam a acumulação de temas e tramas.
Os envolvidos são muitos e cada um envereda por uma missão diferente, para ao longo do caminho ver as linhas percorridas tocarem-se.
Uma investigação que se desmultiplica arrisca o cenário em que terá mais linhas demais a sustentar e a que dar um final apropriado.
Mas as linhas não tendem todas para um mesmo ponto final - para uma solução facilitista - e essa abrangência contribui para descrever o ambiente secreto de uma cidade pequena dos EUA.
Uma cidade que parece atrair alguma quantidade inusitada de crime extremo, também porque alberga as personagens criadas para o investigar.
Um cenário de causa e efeito, de relação entre o ambiente e os peões que nele se movem.
Não deixo de ter de reparar que na fase das resoluções há alguma acção a mais - até uma explosão - para o género de detectives criados, mas mesmo aí há ideias interessantes, como o momento em que a escolha da forma de morte é entre o morrer morrer queimado ou lançar-se a um lago gelado.
Nada que evite que esta seja, finalmente, uma boa leitura devedora do noir de intensidade violenta.


Perseguida (Brian Freeman)
Editorial Presença
1ª edição - Novembro de 2009
400 páginas

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