segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Adeus, até sempre

O Great American Novel é um conceito que se tornou mundialmente familiar, mesmo que na maior parte do tempo a aplicação desse termo a um livro interesse a todos os países que não os próprios EUA como um mero motivo de atenção extra.
O conceito não vem a propósito de ser aplicado a Adeus, até amanhã - ou talvez até venha, mas isso é questão para os mais entendidos na matéria e eu limitar-me-ei à minha percepção, por mais errada que seja mas que me serve sempre os argumentos que pretendo apresentar.
Adeus, até amanhã não tem qualquer ambição elefantina de escrever um país inteiro, mas no seu breve relato descreve algumas centenas de anos do seu país como muitos nunca o fizeram.
O objectivo do livro, além da fidelidade às suas personagens, passa apenas por fazer a emenda da realidade pela ficção.
Mais precisamente, o narrador busca na memória - sua mas, igualmente, de jornais da época da sua infância - o máximo de dados que lhe permitam iniciar o relato que Cletus, seu amigo e filho de um assassino que se acabaria por matar, nunca fez - e que o narrador nunca lhe pediu, mesmo anos depois dele ter abandonado a cidade onde moravam, ao rever Cletus.
Iniciar um relato pelos factos mas continuá-lo pela ficção, entrando na perspectiva dos que estavam lá - intervenientes ou público, culpados ou inocentes -, dando a cada um uma hipótese de existirem para lá da figura esquemática que os jornais descreviam.
O narrador faz a redenção de toda aquela pequena comunidade, da humanidade sempre repleta de falhas que merece mais do que a definição que dela faz um chavão publicado a letra grandes no frontispício de um jornal.
Toda a vida enorme de um país imenso se vive assim mais intensamente num pequeno lugar. Toda a América são pequenos lugares, mesmo os que foram crescendo em direcção aos céus.
Comunidades que crescem pelo desencanto, que perdem a inocência naquele primeiro tiro (e quantos tiros se deram dentro daquele território...), que se enchem de zonas escuras em direcção a tornarem-se cidades que olham dominantes sobre o mundo.
O protagonista que revê a sua memória e a recria 50 anos depois daquela primeira morte é como o país que se tornou na nação mais poderosa do mundo e que, no seu interior, nunca deixou de viver na curiosidade mórbida das aldeias que se tornam organismos com um conjunto de regras morais avessas à entrada no Presente.
Um protagonista e um país que cresceram mas que não se libertam da penitência de um passado silenciado a ter de ser (re)criado. Cada um tem de criar a História dos que deixou para trás.


Adeus, até amanhã (William Maxwell)
Sextante Editora
1ª edição - Setembro de 2010
140 páginas

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