sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Crónica do que se perdeu

Trinta anos passados, dos bons malandros Mário Zambujal passou aos loucos amantes. Duas crónicas de distância para dois Portugal diferentes. Dois livros que não podiam ser mais constratantes.
O primeiro tinha a inventividade que levava abelhas para um assalto à Gulbenkian. Este tem a evidência que a nova criminalidade nacional só tem razões desinteressantes e meios repetitivos.
Há, também, dados em comum entre os dois livros. Sobretudo a facilidade do jogo com a Língua Portuguesa, a sua abordagem solta das amarras castradoras mas reverente à eloquência que ainda suscita o prazer na leitura.
Mas até a Língua popularmente rudita passa de saborosa a estafada à conta da historinha aqui escrita.
Este livro tem uns casos amorosos, perturbações de desejos achados e perdidos (e achados novamente), tudo indigno a menos que se queira escrever uma telenovela.
Algo que compreenderia se fosse para massacrar a partir do seu interior com o género ficcional que Portugal mais idolatra, mas nem isso.
Há personagens que fazem o típico novo "malandro" - aldrabões que fogem para o Brasil depois do golpe
Não há ironia suficiente nessas figuras, nem na sua disposição dentro da trama, para evitar que o mistério que surge se resolva da forma absolutamente previsível.
Seja a forma do romance já sem graça - quando o rapaz que percebe que aquilo que queria esteve sempre à sua frente - ou a dos mistérios despachados "a metro" - com o telemóvel a vir em socorro da verdade como solução mais básica da vida moderna - o exagero não é grande o suficiente para o humor surtir efeito e o resultado final é um modelo colado ao que deveria ser ironizado.
Os amantes não são assim tão loucos e, portanto, a sua história não é assim tão risível. Vai daí que o país saia limpo desta (suposta) provocação.
Esta nova leva de malandros (nem que sejam mariolas das paixões), não por ser real e todos os dias surgir na televisão (ou, pelo menos, num dos poucos pasquins que ainda vende) mas por não ter charme nem uma vida interessante, não devia estar num livro.
Daqui por uns anos quando forem procurar o que era o nosso país por estes dias, com este livro vão achar que tudo é desengraçado.


Dama de Espadas (Mário Zambujal)
Clube do Autor
3ª edição - Janeiro de 2010
220 páginas

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