sexta-feira, 22 de julho de 2011

Demais

Cresci rodeado de livros do tempo em que uma investigação ainda dava um livro policial e não um thriller e não me lembro que os melhores daqueles livros ultrapassassem as duzentas ou trezentas páginas.
Desse tempo nasce-me agora a óbvia percepção de que é possível ter ideias a mais num livro só.
Esse é o caso aqui, de um policial (ou thriller...) que se passa num cenário pouco habitual como é o Mónaco, com os seus ricos habitantes e a sua eficaz polícia, apenas para conseguir colocar um agente do FBI como personagem principal.
Um livro que tem a música - ainda em vinil - como elemento fulcral de provocação criminosa e de pista policial mas que se desembaraça dela através da moderna manipulação da imagem digital.
Um livro que tem a personagem principal ainda mal a superar um drama amoroso através do trabalho policial e logo a meter-se noutro sarilho do género durante a investigação.
Um livro que tem um Savant com memória extraordinária para a música para fazer dele o isco involuntário de um derradeiro combate corpo a corpo.
Há diversas boas ideias no livro, mas nem todas vão até ao fim das suas consequências, acabando por desembocar em soluções, em muitos casos, mais rápidas e até mais simples.
Tudo isto se torna mais evidente pelo capítulo 50 quando o autor nos apresenta a perspectiva de uma personagem que comete assaltos.
Ao longo do capítulo esse assaltante vai atacar uma personagem que já conhecíamos de trás e o objectivo do capítulo é matá-la. Mas disso só temos a certeza num diálogo já no capítulo 51.
Sim, o capítulo 50 até está bem escrito e é, em parte, emocionante. Mas a personagem nova não volta a aparecer e a morte podia facilmente ser apresentada apenas com o diálogo (que até faz uma breve revisão dos acontecimentos).
São sete páginas inúteis que só atrasam o desfecho e aumentam o livro.
Faletti poderia ter escrito, pelo menos, três livros com tudo o que incluiu neste. Tenho a certeza que os teria lido com mais interesse do que li só este (que não é mau entenda-se), sobretudo para acompanhar o desenvolvimento dos personagens que não precisavam de ter o seu arco narrativo encerrado logo à primeira aparição..
Mesmo se por estes dias os policiais (ou thrillers...) são transportados com maior prazer quanto mais páginas tiverem (sobretudo sendo nórdicos), ainda é possível ficar sobrecarregado com um que, apesar disso, pouco mais de quinhentas páginas tem.


Eu Mato (Giorgio Faletti)
Contraponto
1ª edição - Fevereiro de 2011
552 páginas

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