sábado, 9 de abril de 2011

O crime do olhar

A notícia no Sol online mostra como ainda é possível usar a imagem de um acto de violência como novo e mais cruel acto de violência.
A imagem do homicídio que se cometeu usada como arma contra aqueles que nutriam sentimentos pela vítima.
O que a notícia demonstra é que há indivíduos que destruíram o pesar que todos os seres humanos merecem no momento da sua morte e que usam as novas tecnologias ao seu dispôr de forma insensível.
Mosby, neste livro como no que anteriormente li dele, parece vir prevendo e utilizando de forma arguta a desumanização que o contacto via ecrã permite.
O limite que o crime ultrapassa é o da aceitação moral e legal do comportamento generalizado. Mas a par disso, Mosby vem explorando outro limite, o da aceitação humana da exploração de um comportamento que suscita as possibilidades de um crime.
Em Um Grito de Ajuda era a socialização como matéria de despreocupado simplismo. Neste é a dissociação do olhar do estímulo que este deve provocar.
Um comportamento levado ao extremo é matéria de hipótese criminosa. Se cada pessoa que olha obsessivamente para cadáveres num noticiário está a alimentar uma indústria de exploração, é evidente que há um mercado por promover em que se vende a visão de um cadáver "fresco".
Uma premissa inteligente, que se move no limite entre a culpa e a cumplicidade, entre o crime e a sua promoção.
A partir dela, este policial é construído com inteligência, mas é pela sua interrogação actual que ele se distingue.
Até que ponto está a sociedade a gerar comportamentos desviantes por censurar com palavras o que o seu olhar glorifica?
Crime, violência e terror. Se estão a perder poder de choque e se estão a ganhar poder de atração, não estarão a ganhar terreno entre os comportamentos mais comuns?


















Mar de Sangue (Steve Mosby)
Europa-América
Sem indicação da edição - Maio de 2010
292 páginas

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