sábado, 22 de janeiro de 2011

Saga do que está por ver

O inacreditável está no que não se pode ver.
A frase não me pertence - nem a Rafael Sánchez Ferlosio, já agora - mas é um belo mote para este livro em que se valoriza a humanidade capaz de reencontrar o imaginário na simplicidade do real.
Extraindo cores de lagartos ou encontrando aventuras num poço, assim vai a vida de uma personagem que não tem direito a mais do que a curiosidade de olhar e experimentar o que está ao seu alcance.
Trata-se de uma saga humana, uma epopeia da individualidade.
A rara beleza de uma fábula assente na plausabilidade do que acontece a Alfanhuí. Aquilo que nós nomearíamos como Magia, Delírio ou Parvoíce, dependendo do grau de cinismo que tenhamos adquirido com os anos, é para tal personagem nada mais que a criação surgindo da insistência e da curiosidade.
A sua ciência, a sua arte e a sua odisseia nascem da vontade de ver o que acontece na pergunta, na execução e no passo seguintes.
O meu mundo é o imaginário. Esta frase, como a inicial, é de Jean-Luc Godard mas poderia pertencer ao personagem que completou estas andanças e façanhas.
Porque, como o realizador, ele acabou por concretizar o imaginário apenas por o abarcar e não o questionar (refutando quase sempre) à medida que ele se desenrolava à frente dos olhos.


















Andanças e Façanhas de Alfanhuí (Rafael Sánchez Ferlosio)
Livros Cotovia
Sem indicação da edição - Maio de 1991
160 páginas

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