domingo, 19 de dezembro de 2010

Road trip e seus desvios

Um pai aposta a vida do filho num jogo de cartas. Perde (Claro! Haveria outra hipótese para algo tão desesperado?) e segue atrás dele.
O filho segue por onde o deixam, por onde o querem, por onde lhe resta.
Todo o livro é a viagem de um pai e de um filho pelos meandros dos seus desencontros.
O livro termina quando, finalmente, eles se cruzam. Sem desfecho, estão face a face e não sabemos o que vem depois.
Não interessa, o resultado será sempre a perda de um deles - quem sabe se dos dois - e, daí, a perda das múltiplas histórias que eles arrastaram consigo.
O que interessa... É o percurso, são as vozes, são as intersecções, é a viragem por outros espaços e outros tempos.
Quando a tragédia encontra o livro não há desfecho. O desfecho do livro é sentir as múltiplas histórias, interessarmo-nos por todas e ainda querer voltar à estrada central para saber de Torosantos, da sua vida apostada e do seu pai perseguidor.
Será natural sentir que Félix Romeo escreve como Tarantino filma, um luxo de personagens secundárias bizarras, divertidas, cheias de vida e inesquecíveis.
A narrativa sempre interrompida, sempre prestes a perder-se e nós sempre a ganhar personagens magnificamente retratadas.
Personagens para emoldurar na parede das tristes e ridículas vidas, das bizarrias que fascinam, do atroz e do delicioso.
Embarque-se rapidamente nesta road trip de decadência por memórias de Espanha, por vidas acabadas, por mundos silenciados, por prazeres indizíveis...


















Discothèque (Félix Romeo)
Minotauro/Edições 70
1ª edição - Junho de 2010
224 páginas

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