terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Lições em Humanidade

Estes dois pequenos contos de Melville fazem sentido juntos por serem duas demonstrações de como se deve encarar a vida.
Cocorocó fala da aceitação da vida. Um galo, magnífico cantor, é o desejo de um homem e é-lhe negado. A família que o mantém, tão pobre e doente, prefere a riqueza do ânimo que esse galo transmite ao dinheiro. Morrem felizes e em conjunto porque a vida esteve cheia uns dos outros e do belo canto daquele galo. E o homem que o desejava aprendeu a preciosa lição da humildade, de valorizar o que tem e não o que é inalcançável. A inveja era a verdadeira face da sua existência sorumbática e contra ela toda uma família deu a vida e ele honra-a com a sua prometida felicidade futura.
Feliz Insucesso parece ainda mais desesperado. Um homem arrasta o seu sobrinho e um criado para a estreia de uma invenção revolucionária. Trata-os mal porque sabe que a glória o espera e eles se queixam e duvidam. Arriscou dez anos naquele momento e tudo falha. Mas nessa altura já não maldiz o que aconteceu, resigna-se ao facto de que a vida não se pode reduzir a um objectivo tão fugaz. Que a vida se deve apreciar no momento em que acontece e não ser aposta numa eventualidade, num momento que define a imortalidade do seu próprio nome. O homem só aceita isso quando a sua vida se encaminha para o fim, mas entrega tal conhecimento ao seu sobrinho que ainda tem tanto por viver. Não será pois esse o legado que ele tinha a deixar. A lembrança do seu nome está no rapaz que aprendeu a apreciar a vida com ele.
Nenhum dos contos é um manual sentimental de auto-ajuda. São histórias de derrotas - o homem que deseja o galo e tem de o ver morrer, o homem que batalhou toda a vida por uma invenção que falha - de onde brotam alegrias, de onde brota a humanidade dos que as vivem.
A concretização do melhor lado humano obriga a que se pague o preço da derrota.


















Feliz Insucesso (Herman Melville)
Publicações Europa-América
Sem indicação da edição - Setembro de 2010
92 páginas

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