sábado, 6 de novembro de 2010

O noir de hoje como no passado

Michael Chabon voltou a escolher um cenário extravagante e extraordinário para o seu livro.
Este pedaço de História alternativa tem o dom de unir o final da II Guerra Mundial ao presente com uma riqueza que torna tudo plausível e sedutor.
A partir do momento em que estamos capturados neste ambiente, o livro só pode melhorar.
Tal coisa acontece com a criação de Meyer Landsman, um polícia perdido no seio de um povo à beira de perder o local a que pertence.
Landsman é um homem que vive na fatalidade e que anda fatalmente distanciado dos que o rodeiam. É um papel para Humphrey Bogart no caso dele ser judeu e viver no Alasca
A sua ex-mulher é agora a sua chefe e o seu parceiro pertence ao povo que vai ficar com o seu pedaço de Alasca.
Tem apenas de encerrar os casos abertos para despachar o assunto para a administração seguinte mas logo se sente obrigado a resolver um assassinato cuja única relação consigo é ter acontecido no mesmo hotel reles em que ele agora mora.
Nessa senda sujeita-se a falhanço atrás de falhanço, mas progride sempre mais uma posição. Um ser humano pouco credível e um polícia pouco fiável, mas o único a quem ainda confiaríamos algo.
Um homem como o xadrez que odeia e que acompanha toda a trama mas só revela a sua verdadeira implicação no final.
O xadrez é essencial para a resolução da trama, mas também para que ela se inicie, não se trata meramente de sugerir que os personagens são peças jogadas para a frente e para trás.
Todos aqui decidem porque são obrigados, mesmo sujeitos a um xeque-mate certo têm de decidir a sua jogada seguinte.
Não há mais movimentos no tabuleiro, até porque o seu tabuleiro em breve ser-lhes-á retirado e eles, jogadores, ficarão a olhar para o vazio. E, ainda assim, têm de progredir, jogar por descargo de consciência ou obrigação.
Por isso só o noir servia a tal história - embora haja mais géneros e estilos na mistura - e no estilo brilhante de Chabon vêem-se bem os traços gerais do género tratados com respeito, paixão e convicção sustentando uma procura de modernidade.
Mais um grande livro de um autor que, suponho, se alguma vez falhar continuará a fascinar pela sua qualidade da sua tentativa.


















O Sindicato de Polícias Iídiches (Michael Chabon)
Casa das Letras
1ª edição - Outubro de 2009
380 páginas

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