sexta-feira, 16 de julho de 2010

Aos jovens adultos

A ficção para "jovens adultos" está hoje longe da ideia que dela se fazia no século XIX e também daquela que The Outsiders veio criar.
Muita desta ficção, hoje em dia, parece embuir um - ou vários - desses mesmos "jovens adultos" de um poder que os distingue e isola no seio dos outros. É um mecanismo reconhecido de identificação entre o leitor e as personagens que se pode ver claramente na banda desenhada, por exemplo, onde dos sidekicks adolescentes se passou ao super-herói adolescente, o Homem-Aranha.
O porquê disto é simples de compreender, trata-se de abordar as dificuldades dos anos de passagem à idade adulta. Dá-se ao leitor as bases que o leitor não consegue criar por si mesmo dado que, afinal de contas, não há ninguém mais isolado do que um "miúdo de cabeça sempre enfiada num livro".
Claro que esta táctica em particular cria outras possibilidades, um efeito de mercado que leva os "jovens adultos" dos 14 e não até aos 21 mas até, possivelmente, aos 40 anos.
Para os mais velhos a transição de idades ainda é uma memória ou, em certos casos devido à complexa mutação social moderna, uma realidade a acontecer.
Scott Westerfeld fá-lo de forma inteligente, proporcionando a todos por igual algo substancial com que percorrer o livro.
Se a sua narrativa é, por vezes, pouco mais do que comum a este género de livros, são os pequenos episódios da sua imaginação que o distinguem.
Verdade seja dita que as interacções são aqui, não poucas vezes, fruto de uma evidência inescapável. Os adolescentes vivem aquelas situações e a sua réplica em livro conforta-os. Passa-se rapidamente por cima disso para acabar por recordar com mais precisão pequenos momentos de rasgo num universo que, mesmo sobrenatural, é igual ao que a cultura popular já cristalizou como o típico liceu americano.
Para os "jovens adultos" é terreno familiar e confortável. Para quem não procura tal coisa pode ser um pouco desapontante.


















A Hora Secreta (Scott Westerfeld)Vogais & Companhia1ª edição - Março de 2010
232 páginas

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