sábado, 10 de abril de 2010

Nem só para entreter se faz um livro

Não sei até que ponto devo levar a sério a advertência inicial do autor sobre este livro em que afirma categoricamente que esta ficção não procura reflectir sobre a realidade mas tão somente entreter o leitor, deixando claro que a imaginação só encontra (aqui) a realidade por mero acaso.
Não possuo conhecimentos de História para julgar tal afirmação e portanto apenas posso reflectir a minha própria ilusão interpretativa do que o autor aqui fez.
Assim sendo, A Tragédia da Rua do Arsenal, merece o reconhecimento de que entretem com facilidade, jogando com o drama romântico e com a conspiração contra o poder instituído.
Dom Carlos e o seu filho Dom Luís bem podem ser os protagonistas de uma história que une as conspirações em torno de JFK aos dramas de Shakespeare, sem exageros nem deambulações retorcidas.
A história que o autor constrói poderia ser real, aliás, poderá mesmo ser real. Se a sua imaginação se tiver encontrado, por acaso, com a realidade, não será um prémio injusto para quem ousou escrever uma pequena variação em torno de um importante acontecimento nacional sem acumular informações de forma a exibir a pesquisa ou sem levar a ficção por caminhos que deixassem de ser identificáveis com aquilo que se sabe do período histórico que aborda.
Voltando agora ao que se falava logo no início do texto, apesar de todos os avisos em contrário por parte do autor, o leitor não deixa de reparar numa certa inevitabilidade analítica por parte do autor, nem que seja na forma como dispõe os personagens no seio dos eventos.
A crítica à política da época - e, porque não, à da nossa própria época - não deixa de existir, mesmo que seja apenas o leitor quem lê mais do que deveria.
Isso não é mau, pelo contrário, é saudável, um entretenimento de época que, por inevitabilidade de cenário histórico, tem vocação de reflexão.
Duplo ganho para o leitor!


















A Tragédia da Rua do Arsenal (Jean Pailler)
Planeta Manuscrito
1ª edição - Janeiro de 2010
176 páginas

1 comentário:

  1. Excelente análise, crítica apurada, sem revelar o entrecho, mas a despertar a curiosidade.

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