domingo, 7 de março de 2010

Aguardado

Para os leitores, um dos benefícios de uma adaptação cinematográfica é o retorno da atenção sobre o respectivo livro.
Foi este o caso, depois de 4 anos de espera para ler o livro, a aproximação do filme permitiu-me encontrar uma pessoa que se sentiu pressionada a comprar o livro.
Li-o agora emprestado depois de tanto tempo a adiar a compra. Ou seria a adiar a resposta a uma dúvida profunda de um leitor para com um livro que o tenta apesar de tudo?
A concepção de um romance contado a partir do ponto de vista de uma rapariga assassinada poderia ser uma curiosa forma de policial.
Ao começar a ler a ideia de policial ficou rapidamente posta de lado para se explorar o efeito de uma perda brutal tem sobre o grupo de pessoas que têm de continuar a viver para lá dela.
Só que esse olhar sobre a devastação das vidas dos familiares de Susie Salmon não tem sobre o leitor o mesmo efeito que a morte teve sobre eles.
Parece-me que falta ao narrador do livro um crescimento que lhe permita um olhar mais crítico - e até mais cínico - para com os resultados que a sua morte teve na sua família e dos restantes membros da comunidade que com ela interagiam.
A morte da personagem cristalizou-a numa idade feita de esperança e magia, quando na verdade a sua mera morte parece ter destruído tudo isso em todos.
Que o romance vá olhando para o que se passa na Terra a partir de um belo Céu individual é menos interessante do que mergulhar a fundo na tragédia humana dos que ficam para viver a história, já que para a contar serve bem quem morreu.
As doses de uma fantasia gerada pela fé que vão trabalhando para a concepção do romance sobre um acto de violência pura que tudo destroi tornam-no menos poderoso do que podia ser, mas talvez - e talvez porque pessoalmente não me deparei com isto - mais repleto de uma esperança apaziguadora para o leitor.


















Visto do Céu (Alice Sebold)
Casa das Letras
10ª edição - Novembro de 2009
264 páginas

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