sábado, 28 de novembro de 2009

Regressar

Regressei a Bartleby, uma vez mais diga-se, sem que saiba exactamente porquê. É uma pulsão que acho perfeitamente deliciosa.
Suponho que seja uma identificação com este homem que se torna uma fantasmagoria pela força da sua existência imóvel mas resistente.
Bartleby é como um pilar que se opõe ao mar. As ondas deveriam passar sem sequer se aperceberem dele. Mas a sua imobilidade acaba por se revelar incómoda, perturbadora para a força que se julga toda poderosa.
Na sua intrigante singularidade, Bartleby rasga com a normalidade que a sociedade espera ver cumprida.
Ele é um resistente silencioso e pacífico à obediência que deve ser norma. Ele opta quando devia apenas reagir ao que lhe é dito. Ele não confronta ninguém, apenas opta.
Por isso Bartleby será sempre uma personagem moderna, por isso ele será sempre a expressão do indivíduo que se confronta com a sua própria função no mundo e com expectativas com que a sociedade o pressiona.
Ainda não foi a última vez que regressei a Bartleby, disso tenho a certeza.


















Bartleby (Herman Melville)
Assírio e Alvim
Sem indicação da edição - Abril de 1988
88 páginas

Sem comentários:

Enviar um comentário