domingo, 1 de novembro de 2009

Ficar aborrecido

Lê-se O Perito e sente-se que estamos a braços com um autor cheio de ideias e perfeitamente capaz que é vitíma das circunstâncias editoriais.
Não digo que Robert Finn não tenha escrito o livro que pretendia, mas parece ter-se resignado às convenções de um género porque é aquele que, neste momento, está em voga.
No fundo O Perito tem dois livros dentro de si.
O primeiro é um policial simples que está enriquecido por uma dupla protagonista que são como pólos atraídos um para o outro, mas igualmente repelidos.
Um casal a trocar picardias, ele um inglês estranhamente impetuoso e ela uma americana estranhamente resguardada.
São, com as devidas distâncias, um Boogie & Bacall para os tempos actuais - sendo que tenho consciência que a este comentário não seré estranha a leitura recente de À Beira do Abismo.
O segundo é um livro de fantasia onde velhos textos sobre magia podem ser manuais eficazes, que podem trazer ao mundo moderno de poderes que rivalizam com a ciência mais avançada ao mesmo tempo que o impregna do classicismo que só os combates de florete podem ter.
Separados dariam dois livros muito apetecíveis e certamente com muito mais páginas para cada um se desenvolver e respirar.
Juntos dão, ainda assim, um agradável e eficaz livro que, apesar de tudo, escapa à repetição da fórmula que parece condenado a repetir.
É caso para ficar aborrecido com Dan Brown e o seu sucesso que obriga a uma formatação da imaginação - ou, pelo menos, da expressão dessa imaginação.


















O Perito (Robert Finn)
Publicações Europa-América
1ª edição - Julho de 2009
392 páginas

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