domingo, 18 de outubro de 2009

A personagem, a essência

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Marlowe é íntegro, ele é o bastião da moral possível num mundo capaz de enveredar pelos actos mais ignominiosos.
Ele é o último dos existencialistas, fiel a si próprio, pois não são "25 dólares mais despesas" que o levaram a escolher esta profissão.
Talvez Marlowe não consiga dormir descansadamente à noite, mas é sem sobra de dúvida aquele que menos mal pode dormir.
Ele opera como a sua consciência lhe permite, fiel apenas a si e ao seu empregador, à justiça que esse pacto envolve.
A justiça externa não lhe interessa verdadeiramente, só ele resiste ainda num mundo vulgar, só ele ele é a fonte de irrisão que confronta esse mundo.

Se nos perdermos no rumo incerto de À Beira do Abismo, não tem mal. Nem Chandler conseguia ter a certeza de como morriam algumas das suas personagens.
Não interessa aqui desvendar - nem por nós, nem por Marlowe - os eventos. Interessa que eles se sucedam e acelerem em direcção à sua própria colisão.
Interessa que eles criem uma sensação, porque À Beira do Abismo é um ambiente, um mundo para que Marlowe exista e lance as suas deliciosas tiradas.
Um mundo que é dele, que só existe onde ele está, que só existe no espaço imediato que o rodeia.
E Marlowe é uma das mais memoráveis e indispensáveis personagens da literatura americana.
Talvez seja isso o essencial a ser dito!


















À beira do abismo (Raymond Chandler)
Contraponto
1ª edição - Julho de 2009
200 páginas

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