quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um trabalho de precisão

Glen Duncan escreveu um romance onde o envolvimento e a sequência dos vários Tempos descritos são dominados de forma precisa e inteligente, capaz de falar tão loquaz e agilmente de uma grande história de amor como da cega crueldade do actual mundo ocidental.
Uma história de amor tão capaz de desafiar as normas sociais no seu surgimento como de desafiar o sofrimento pessoal na sua ruptura.
Uma crueldade humana que origina também a mais bizarra e desigual relação de afinidade entre duas pessoas, reduzindo a diferença que queremos encontrar entre os bons e os maus, entre os terroristas e o resto de nós.
Mas que fala também de muito mais do que isso, que fala de toda – várias, mesmo – vidas que se podem viver.

Porque um dia e uma noite e um dia é o período de tempo que parece sempre definir a vida de Augustus Rose.
É nesse período que a sua vida parece reencontrar toda a felicidade do mundo só para que, depois, ele descubra o maior dos sofrimentos. É nesse período que ele sofre a maior das dores só para que, depois, ele descubra o maior dos alívios.
O principal desses períodos, uma sessão de tortura com o interrogador Harper que descobre a afinidade com Augustus e que parece querer recusar a necessidade dos seus métodos cruéis, parece ser o verdadeiro cerne que dominam o despoletar das memórias de Augustus e o definir das suas acções presentes.
Numa engenhosa sequência de analepses e prolepses, a incrível e periclitante vida deste homem, mas também a misteriosa e sedutora vida das personagens secundárias que com ele se cruzam, revelam a pouco e pouco as suas .
Entre essas personagens, é sobretudo, claro, Harper, um quase-vilão que parece apenas disposto a enfrentar a tarefa a que se vê obrigado pelo alívio e compreensão daqueles que têm de a sofrer.

Esta é uma leitura, talvez a mais óbvia, do que é este livro.
Mas a riqueza de Um Dia e Uma Noite e Um Dia é suficiente para que cada um dos seus leitores lhe possa descobrir a sua própria entrada, a sua própria afinidade fascinada.
Este é um livro que nos poderá captar a atenção num mero pormenor para depois o fazer ressoar ao longo da sua trama maior, ao longo de todas as páginas que ficaram antes e que ainda faltam surgir.


















Um Dia e Uma Noite e Um Dia (Glen Duncan)
Publicações Europa-América
1ª Edição - Julho de 2009
202 páginas

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