sábado, 6 de junho de 2009

A solidão dos números primos

Esta é a primeira recensão a que não dou um título de minha autoria.
Afinal de contas, o nome deste livro é por si próprio suficientemente contudente sem deixar de lado o seu mistério, sugestivo enquanto lança pistas daquilo a que vamos.
Foi por ele que primeiro - e acima de tudo - quis pegar neste livro.
O seu título é magnífico.
Depois veio a capa.
Umas vezes profundamente irritante, lembrando aqueles melodramas de má memória a que o cinema italiano pareceu (muitas vezes) reduzido durante a década de 1990.
Mas outras, cativante naquele olhar andrógino, castamente provocador, com vontade de desaparecer na folhagem.
Uma capa que exige esta relação de amor-ódio e que, assim, se torna, realmente, na mais precisa capa que o livro pedia.

Esse olhar é o de Alice e Mattia.
São dois fantasmas que carregam as grilhetas do medo, da culpa, da humilhação, do desgosto.
Dois fantasmas que apenas ao tocarem-se parecem ganhar corpo, mas que assim que o fazem parecem sentir o peso das suas grilhetas ainda mais. Ou, pelo contrário, talvez sintam essas grilhetas escaparem-lhes e não o consigam aceitar.
Há entre eles um amor que se manifesta de forma quase assentimental.
O que verdadeiramente lhes resta são as dores de serem humanos e imperfeitos.
As suas maleitas sentem-se a cada pedaço de história, a cada escolha, mas nunca são definidos nem sentenciados.
Nomeá-los seria desvalorizar a complexidade do ser humano. Tentar definir ou justificar os actos de ambos seria destruir a suspensão em que seguimos os seus percursos onde ressoam os nossos próprios e os de toda a Humanidade.
Entramos nestas vidas discretamente, pois elas são já duas farpas a penetrarem nos corpos, e não temos de ser nós a cravá-las mais fundo. Nós observamos e sofremos lado a lado com elas.
Paolo Giordano foi delicado com os seus números primos e, consequentemente, nós conseguimos admirá-los e estimá-los.
São nossos, também; somos nós, também.
Deixemo-nos, então, ficar a sós com este livro!


















A solidão dos números primos (Paolo Giordano)
Círculo de Leitores
1ª Edição - Abril de 2009
272 páginas

2 comentários:

  1. Uma bela história..
    Uma história que nos faz pensar.
    Sem dúvida um dos melhores livros que li este ano.
    Concordo consigo, quanto à capa, magnífica. O olhar, a folhagem e o rosto com a pele natural, sem efeitos de maquilhagem...
    Parabéns pelo blog...cheguei aqui através do Marcador de livros.
    Continuação de boas leituras...

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  2. Encomendei este livro agora ao Circulo de Leitores e mal posso esperar que chege para o ler

    Boas leituras

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