sexta-feira, 29 de maio de 2009

Homens...

Aquilo que aqui encontramos não é um romance, mas antes uma sequência, um pouco críptica e de misteriosos efeitos.
Constituída por pequenas sequências - algumas ficções, algumas exposições linguísticas e histórias, alguns extractos da Eneida e da Odisseia - que ganham um estranho sentido à medida que lhes lemos as interligações.
É no espaço entre cada sequência, o espaço em branco que só o leitor pode completar, que compreendos as implicações que cada sequência tem na outra; como a história de um homem que numa viagem de negócios acaba rendido ao corpo de uma prostituta menor de idade pode levar à compreensão de como a escolha da palavra pussy por parte das mulheres para definirem a sua genitália lhes devolveu o poder que sempre tiveram sobre os homens que as tentavam diminuir apelidando-as com uma palavra derivada do que em latim significava "cão".

Miúdas trata-se de um retrato da condição ridícula, triste e iludida do homem.
Uma condição perene, ou não se perscutasse já nos grandes poemas épicos gregos.
Como mesmo um homem cheio de poder (económico, por exemplo) se rende perante esse poder ilusório de domar - preverter, conspurcar, abusar, escolham a palavra ao vosso próprio gosto - uma miúda e a sua condição (falsa, por vezes, é certo) de fragilidade.
Mas o verdadeiro poder é dessas miúdas, de reduzir o homem à sua própria condição de risível, fraco e previsível animal.
E o poder de Miúdas é de o tornar evidente de uma forma irónica e clarificadora, de certa forma redentora- ou, pelo menos, purificadora.


















Miúdas (Nic Kelman)
Bico de Pena
1ª Edição - Abril de 2009
160 páginas

Sem comentários:

Enviar um comentário