quinta-feira, 9 de abril de 2009

Os filhos da solidão

Se há algo que atravessa A Filha do Partisan é a solidão.
No fundamental, esta torturada história de amor, é o retrato de como na luta contra a solidão imensa, o ser humano acaba por não conseguir escapar a ela senão numa breve miragem.
Enquanto Roza luta para manter Chris junto a si, contando-lhe todas as suas histórias de forma a melhor o seduzir, provocar e manter em suspenso, para que volte dia após dia; Chris rende-se à necessidade de a ouvir, de se sentir necessário e, claro, à hipnose daquela voz e daquele relato.
Mas nada disso consegue apagar os vestígios daquela primeira impressão, em que ele a abordou pensando que ela era uma prostituta e ela lhe respondeu que não cobrava menos de 500£.
Ambos se condenaram ali, embora não pudessem ter vivido tal história de amor de outra forma.
No fim de contas, os sentimentos que casualmente os aproximaram, são os mesmos que acabam por os separar.
A solidão e o medo que o mundo lhes impõe, e que os levam a comportar-se como se comportaram quando se encontraram da primeira vez, acabam por os agarrar sem possibilidade de escape. O prenúncio do que sucederia está sempre com eles e a história de amor, linda, não parece mais do que um interlúdio na engrenagem das suas (tristes) vidas.

A Filha do Partisan tem um dom ao contar esta história.
Com as duas vozes - Chris e Roza - a história vive-se quase "ao vivo" e a surpresa com a história de Roza é genuína, como é genuína a desconfiança com a verdade do que ela conta.
A entrega dela não é completa, mesmo quando leva a história para os caminhos mais desabrigados e assim estamos tão vigilantes quanto expectatantes.
Tudo para vermos o livro ensinar-nos, no seu mecanismo narrativo, a lição que as personagens vivem. As nossas expectativas não são cumpridas pelo livro, pois não é isso que ele pretende. A nossa solidão é a da impossibilidade de nos acharmos por via desta leitura. Ela é um interlúdio que temos de saber interpretar por mérito próprio.
Arrojado é a palavra que me apetece empregar aqui. E conseguido, felizmente, também!


















A filha do Partisan (Louis de Bernières)
Publicações Europa-América
1ª Edição - Março de 2009
172 páginas

Sem comentários:

Enviar um comentário