sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Grande Personagem

Benjamim Weaver é um personagem que pode muito bem marcar o seu território no imaginário popular.
Este "judeu português, antigo pugilista, actual caçador de criminosos e futuro mestre do disfarce" tem o desembaraço e a malapata que, combinados, permitem que as suas deswventuras deixem sedentos leitores de qualquer espécie.
Afinal de contas, quantas vezes encontraremos um homem que, falsamente condenado à morte, fuja da prisão atravessando completamente nú as ruas de Londres para, algum tempo depois, conquistar os comentários e a sociedade londrina ao fazer-se passar por um rico comerciante de tabaco Jamaicano?
Quantas vezes conseguiremos encontrar um homem que envolvido numa trama de repercussões políticas não deixa de ser um "homem de rua", com uma genealogia que remete directamente para os obscuros detectives de Mickey Spillane.

Um dos pontos mais fortes do livro é exactamente esse, o de jogar tão bem e tão divertidamente com a alta e a baixa sociedade.
A linguagem de "casebre" dá um gosto particular que não destoa entre a sociedade alta.
O personagem e o livro vagueiam entre as ruas e os salões com a mesma graça e agilidade.
Sobre isso, vale a pena ainda assinalar o humor com que o autor desengana o leitor.
Em vez de procurar colar uma personagem ao rumo de uma conspiração imensa e cheia de contornos grandiloquentes, o autor trata de fazer a intriga crescer em torno de Weaver, para depois a dissolver com fina ironia naquilo que sempre foi, a busca de um homem pelos culpados da sua condenação.
Em vez de um thriller histórico, temos um thriller colado às suas personagens cheias de vida, que aproveita para dar uma vista de olhos no contexto socio-político da época.
Refrescante entre a produção actual do género.

Ainda mais um reparo, se me permitem.
Apesar de este livro se seguir a A Conspiração de Papel - que não li, embora agora o deseje - não foi necessário lê-lo para conhecer esta personagem.
Benjamin Weaver caracterizou-se a si próprio pelas suas acções, como personagem viva que é e não funcional e mecanicista como Gabriel Allon, o protagonista de O Confessor, de que recentemente falei.



















O Grande Conspirador (David Liss)
Saída de Emergência
1ª Edição - Outubro de 2006
352 páginas

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