sábado, 25 de abril de 2009

Um Djinn pouco dissimulado

Djinn é um conto que pretendeu servir de base ao estudo da língua francesa numa Universidade americana.
Apesar do cuidado do tradutor na transposição verbal, a verdade é que esse efeito se perde aqui, o que leva a que seja a qualidade da própria narrativa a ter de suportar a avaliação do leitor.
Derivando da funcionalidade do conto está a sua deliciosa premissa, que Jean - o nome inglês - é a transcrição fonética de Djinn.
As possibilidades imaginadas perante esta tão simples ideia são inúmeras e, possivelmente, injustas para com o próprio livro que ficará sempre em desvantagem contra as expectativas.

Aqui estamos perante a criação de um pequeno universo de devaneio criativo.
Tudo aqui parece possível, mas incontrolável.
A sensação de sonho, fugaz e fugidio, é constante.
Sempre que uma ideia nos parece consistente ou uma linha narrativa parece prestes a ser concluída, logo ela é alterada para nos manter expectantes e constantemente nos surpreender.
No processo, Alain Robbe-Grillet integra aqui diversos temas interessantes, que parecem impossíveis de se associarem, mas que nessa combinação se recriam.
Talvez a melhor comparação seja com um filme de David Lynch, mas ao contrário deste, a sensação de nos vermos subitamente roubados da nossa certeza não é constante. Não nos vemos, no final, obrigados a tentar intuir o máximo possível, porque no final, demais nos é explicado, numa recuperação da realidade palpável que cai mal neste pequeno conto fantástico.
Uma pena que um Djinn não tivesse guiado o destino desta obra literária e fazê-la vagar eficazmente pelos mundos que dela fazem parte.

Como nota final, é de louvar nesta edição, a integração no final de um artigo publicado no Le Monde acerca desta obra e que melhor ajuda a conhecer e compreender o universo do autor e o porquê de algumas das suas opções.



















Djinn (Alain Robbe-Grillet)
Livros do Brasil
1ª Edição - 1990
208 páginas

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